quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O beijo

Não teve esquema ou estratagema, surgiu. De uma intensidade paradoxal a embriaguez do meu sentido, quis entender mas fui incapaz no ato. Te compartilhei pois vi que era demasiado prazeroso pra ser só meu, e não era e não seria, isso eu não sabia.
Quando me vi totalmente vulnerável e propensa à buscar o teu interior, fugi. O por quê, sem razão, não passível de compreensão se fez legível quando quis saber de mim. Prazer, eu sou aquela que invadiu e assim, fiquei.
No instante em que meus lábios sóbrios encontraram os teus eu fui calor; fui até o mar e voltei na ressaca da tua respiração, fui fumaça. Meus passos até tua pele foram silenciosos, como quem não quer acordar o outro do sono leve, eu que dormia, você me acordou.
E na intensidade do teu toque me despi por inteiro, fiz do meu suor a tua saliva, do meu grito a tua voz, da minha dor o teu ardor e por querer fazer caber o teu corpo em mim, arrastei os móveis do meu lar.
A cada novo olhar, o meu desejo de ter em tuas veias o meu sangue se faz maior, a necessidade de esgotar teu ar e calar teu silêncio me transtorna e me atiça, me faz querer fugir, mais uma vez.

Não sei lidar com a angustia da ausência do segundo após a porta fechar.

Eu sou o caos na epistemologia do teu corpo.

domingo, 28 de abril de 2019

Sobre hiatos, tempo e solidão

Quantos dias e quantos passos medem a distância entre nós?
Seguimos sem esquecer, porém, nos perdendo em cada encontro e acreditando que seria sempre a última vez, a última palavra e o último som. Nunca foi, a batida dentro do peito se mantem constante, aquela percussão inebriante, inquietante, que me faz tentar outra vez.
O tempo sem obstáculos diz que seria perda dele mesmo negar o óbvio e arriscar mais, arriscar de verdade, no entanto a maior luta é contra o seu conceito de aproveitamento útil, e a solidão vem pra dilacerar qualquer concepção mensurável do que não deveria ser: o amor.
Eu lido com a ausência porque sem ela não entenderia a saudade no seu mais profundo e miríade significado. Sou e serei aquela que viveu a plenitude da própria alma, pois, quando no vazio me encontrei, me vi completa no infinito de mim mesma e assim, te aceito como parte do todo que neguei. Ao contar deste caminho, serei sim, sempre.