sexta-feira, 19 de abril de 2024

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a dançar.

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a dançar; dois pra lá, dois pra cá, pequenos passos sincronizados com as batidas dos nossos corações, sua mão na minha cintura, meu sorriso no seu peito, não se escuta valsa, apenas uma gaita e um violão. Eu e você, nesse balançar particular, sem sapatos, sentindo a eternidade aos nossos pés.

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a sorrir, entretidos, contando as linhas do tempo em nossos rostos, desenhando constelações nas marcas dos nossos corpos, hipnotizados pelo brilho das nossas írises ao refletirem o céu. Eu e você, respirando o ar que sai de um e entra no outro, numa candência única que só os amantes têm.

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a brincar; eu vou me esconder e você vai me procurar, então você vai correr e eu tentarei ao máximo te alcançar e quando eu conseguir, seremos um show de mágica onde eu faço você desaparecer dentro de mim. Eu e você, desenhando uma vida em nossas peles, habitando a curvatura no espaço tempo da alma.

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a cantar; todos os acordes e tríades, desde a primeira nota da criação do universo até o chiado que sai da minha boca ao contar as estórias de nós dois. Eu e você seremos música, vibrando toda as cores que partem da luz branca e seguem adiante no infinito do seu abraço.

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a sonhar; num barco vagando pelo oceano, voando entre as nuvens, encontrando as respostas no vento, caminhando as veredas da paz. Eu e você, desenhando as trilhas que vamos seguir, rabiscos em muros, ruas e pontes feitas de giz.

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a amar, a dor da partida já não será mais sentida, todos os minutos e segundos restantes serão nossos e poderemos fazer com eles tudo aquilo que sempre nos foi proibido. Eu e você, seremos duas partículas dançantes perdidas entre todos os átomos da nossa existência, aproveitando a brisa do mar ao qual faremos parte em breve.

 

Quando o mundo acabar, estaremos eu e você a dançar. 


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Disfonia

Acordo sem saber, de onde vem essa voz rouca?

Despertar tardio, um sono profundo

Gritos de socorro ou canções

Choro contido de saudade

Gripe mal curada

Manifestação

Revolução

Vida

Eu

quinta-feira, 28 de março de 2024

Onze anos

  

Onze: eu te chamei para um café a qualquer dia

Podia até dar certo, pois, o não, esse eu já tinha

Embora, porém, contudo, entretanto, todavia

Na nossa história mais um ponto e vírgula surgia

 

Dez: Você tentou, me procurou, me disse vem

Pretérito imperfeito subjuntivo, coração aquém

Perdida, do contra, confusa, aquariana...você sabe bem

Eu sei que o disco do Dylan custou muito mais de cem

 

Nove: Não vou mais contar assim, foi ruim

Conversa telepática, enigmática, simbolismos sem fim

Tudo aquilo que eu sonhava murmurava solidão em mim

Você sim, eu não, eu sim, cê não, eu não e você sim

 

Oito, sete, seis, eu sei, foi muito mais

São vidas, universos paralelos, amores, dores, quais

São os endereços dos abraços, passos e portais

Cinco, quatro, Rosas, Joaquins, Josés, Getúlios e Moraes

São tantos brilhos únicos, preciosos, eternos imortais.

 

Três: Foram duas trilhas, sinuosas, úmidas, coloridas

Todo branco refletia as lágrimas caídas, o adeus, a vida

Hiato oblíquo silenciou meu bem querer, deixou ferida

Ardeu, queimou, passou, abriu, senti, pulsou sozinha

 

Dois: O nosso mar foi mais que o mar, foi sol, luar

Se era França ou Minas, eu amava, cada olhar

Das notas, compassos, curvas na candência do meu cantar

Você tocou todas as estradas do meu corpo sem falhar

 

Um: saí de casa ansiosa, pensativa

Estação consolação, contradição, te encontraria

Subiu as escadas, um sorriso, esperança, minhas mãos frias

O nosso primeiro beijo a testemunha quem diria,

 

Seria a Augusta, no passo Zero da esquina.

  

 

 

 19.04.19